Twenty-first-century demographic and social inequalities of heat-related deaths in Brazilian urban areas

A recently published study in PLOS ONE with contributions of several IDL researchers showed a link between demographic and social inequalities in heat-related deaths in Brazilian urban areas. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0295766

 

Press release in Portuguese

 

Mudanças climáticas e desigualdades no Brasil: aspectos socioeconômicos e demográficos na associação entre calor e mortalidade em regiões metropolitanas do país

Mais intensas, longas e frequentes, as ondas de calor foram responsáveis por mais de 48 mil mortes nas principais regiões metropolitanas do país. Mulheres, idosos, pessoas pretas e pardas e aqueles com menor nível de escolaridade foram mais afetadas.

O número de dias com temperaturas excessivamente elevadas tem aumentado significativamente em todas as regiões do planeta como consequência das mudanças climáticas globais induzidas pela ação humana. Além do aumento da frequência, duração e extensão das áreas afetadas, cada vez mais estes fenômenos climáticos têm ocorrido de maneira simultânea a outros eventos extremos, como secas e incêndios florestais de grandes proporções. As ondas de calor têm sido associadas a diversos impactos ambientais, sociais e econômicos, e milhares de mortes em todo o mundo.

O artigo “Twenty-first-century demographic and social inequalities of heat-related deaths in Brazilian urban areas”, investiga a relação entre a ocorrência de ondas de calor (períodos de mais de 3 dias consecutivos com temperaturas médias acima de um limiar específico de cada região) e o aumento nas taxas de mortalidade da população. O estudo foi realizado por pesquisadores da UFRJ, Fiocruz, UnB e Universidade de Lisboa e identificou que cerca de 48 mil mortes podem ser atribuídas a ondas de calor. Os pesquisadores analisaram dados observacionais de temperatura de estações meteorológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e informações do ​​Ministério da Saúde sobre a mortalidade entre os anos 2000 e 2018 nas 14 maiores regiões metropolitanas do país, onde vivem cerca de 35% dos brasileiros.

Em todas as áreas estudadas, os pesquisadores identificaram um aumento significativo no número de mortes durante eventos de calor extremo, associado principalmente a doenças do aparelho circulatório, doenças respiratórias e neoplasias. Doenças da pele e do tecido subcutâneo, do sistema nervoso e do aparelho geniturinário e outras causas de morte, como transtornos mentais e comportamentais, por exemplo, tiveram aumento significativo no número de mortes em algumas regiões.

Considerado o período estudado, a região metropolitana de São Paulo, que é a mais populosa do país, concentrou 14.850 mortes em excesso, atribuídas às ondas de calor. Quando normalizadas pela população, as regiões do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belém, Cuiabá e Recife apresentaram maiores taxas de mortalidade. Em algumas regiões do norte e do centro-oeste as ondas de calor com maior impacto ocorreram nos meses mais secos do ano, que pode contribuir com a hipótese de desastres concomitantes, já que o período mais seco na região norte é o período de aumento de queimadas e incêndios florestais, enquanto no sul, sudeste e nordeste o impacto foi maior durante os meses de verão.

O estudo identificou, pela primeira vez no Brasil, o impacto das ondas de calor de acordo com diferentes grupos etários, de gênero, raça/cor e nível de escolaridade com grande abrangência espacial. Mulheres e idosos foram identificados como os grupos mais afetados por períodos de calor extremo, corroborando com estudos anteriores em outras regiões.

Além disso, o incremento de mortalidade entre pessoas identificadas como pretas ou pardas foi maior que o observado entre pessoas identificadas como brancas em 12 das regiões metroplotanas estudadas. As diferenças entre os dois grupos variaram entre 10 e 20% em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, mas chegaram a 40-80% nas regiões de Belém e Goiânia. Com relação ao nível de escolaridade, o impacto foi maior na população com 4 ou menos anos de estudo em relação ao subgrupo com escolaridade superior a 12 anos. Nesse caso, as diferenças entre os dois grupo variou de 10-20% em São Paulo e Rio de Janeiro, chegando a valores entre 40 e 90% nas regiões de Manaus, Recife e Belém. O que contribui para a discussão que os eventos extremos não impactam a população de maneira igual e reforça a importância de discutir racismo ambiental e justiça ambiental no contexto das mudanças climáticas.

Os resultados do estudo evidenciam que as mudanças climáticas induzidas pela ação humana têm exacerbado as desigualdades socioeconômicas já existentes no país, revelando aspectos sociais e demográficos importantes para subsidiar a formulação de políticas públicas de adaptação aos eventos extremos nas cidades brasileiras. Em particular, sistemas de alerta precoce considerando o perfil de vulnerabilidade e resiliência dos diferentes grupos populacionais são importantes para estratégias de prevenção e preparação em saúde. Além disso, o artigo reforça que a expansão do Sistema Único de Saúde (SUS) combinada à elaboração e aplicação de políticas efetivas para redução das desigualdades representam um importante passo para mitigação dos impactos das ondas de calor em todos os cenários climáticos futuros.

Estudo financiado pelo edital Inova/Fiocruz de 2021 por uma equipe transdisciplinar.

Monteiro dos Santos D, Libonati R, Garcia BN, Geirinhas JL, Salvi BB, Lima e Silva E, et al. (2024) Twenty-first-century demographic and social inequalities of heat-related deaths in Brazilian urban areas. PLoS ONE 19(1): e0295766. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0295766